Mandioca: fatores que limitam a produtividade viram palestra no PR

20, Abr de 2023

Trabalho acadêmico descobriu diferença de quase 44 toneladas por hectare entre a entre média real de produtividade de grupo de mandiocultores de MS e o potencial produtivo da lavoura

Um problema cujo estudo se tornou uma dissertação de mestrado e, agora, um trabalho acadêmico que está se tornando uma solução para agricultores do sul de Mato Grosso do Sul. As limitações da produtividade da mandiocultura na região - uma lacuna de quase 44 toneladas por hectare entre o potencial e a média atual da colheita - motivaram o engenheiro agrônomo Cleiton Simão Zebalho, coordenador técnico da cultura da mandioca da Copasul, a buscar - e encontrar - respostas mais detalhadas sobre o tema. No último dia 15, o profissional esteve em Rondon, no Paraná, para compartilhar algumas de suas descobertas em palestra no 2º Dia de Campo da Fazenda Rosimara.

O convite para a palestra veio do titular da fazenda, Nelson de Paula, que tomou conhecimento do tema do mestrado de Cleiton (desenvolvido pela UFSM-RS) em visita à sede da Copasul. Para a cooperativa, a superação dos fatores limitantes da mandioca, sobretudo no Cone Sul de MS, é imprescindível para o sucesso de seus cooperados e também para a qualidade dos produtos de sua indústria de fécula e tapioca, em Naviraí.

Em entrevista à Copasul, Cleiton tratou da abrangência da dissertação “Fatores biofísicos e de manejo que provocam a lacuna de produtividade em lavouras de mandioca de indústria em Mato Grosso do Sul” e, depois disso, de sua palestra em Rondon-PR. "Esse estudo de pesquisa nós desenvolvemos nas safras 2020/21 e 2021/22. Ao todo foram dois anos de levantamento de dados nas áreas de atuação da cooperativa nos municípios de atendimento e que representam 72% da mandioca produzida em todo o estado de Mato Grosso do Sul”, quantificou. 

LAVOURAS DE MANDIOCA EM MS: FATORES LIMITANTES

       -> Genética

De acordo com Cleiton, no primeiro lugar entre os principais limitantes da produtividade da raiz está a genética da mandioca de indústria. “Ou seja, cultivares. Os produtores que estão produzindo mais são produtores tecnificados, que aceitam a inovação genética na sua propriedade. Quer dizer, são aqueles produtores que estão cultivando e plantando cultivares lançadas nos últimos quatro anos e que venham com boas cargas genéticas”, traduziu Zebalho.

       -> Janela de plantio

Conforme apontou o coordenador técnico da cultura da mandioca da Copasul, as lavouras mais produtivas são aquelas que encontram a melhor época de plantar mandioca. “Os produtores que estão plantando até 18 de julho estão tendo as melhores produtividade”, simplificou. 

       -> Adubação

“Depois, seguimos para a adubação de base total com cloreto de potássio. Também os produtores que estão adubando mais estão colhendo mais”, continuou o mestre em engenharia agrícola. 

       -> Controle de plantas daninhas

“Os produtores que fazem melhor este manejo - seja ele mecanizado, manual ou com uso de herbicidas - estão produzindo mais. Ou seja, roça boa é roça limpa - já dizia o nosso finado presidente, Sakae Kamitani”, analisou Cleiton, lembrando da célebre frase “Lavoura boa sempre limpa, né?”, proferida pelo fundador nº 1 entre os 27 pioneiros da Copasul.

POTENCIAL

O próximo passo, então, é levar este conhecimento aos produtores rurais, em especial os cooperados da Copasul. Embora o trabalho seja árduo, há uma boa recompensa no fim do caminho. “Hoje em Mato Grosso do Sul a mandioca pode produzir até 62 toneladas por hectare. Nós descobrimos que a produtividade média dos produtores participantes do estudo é de 18,5 toneladas de mandioca de um ciclo. [...] Nós temos uma lacuna de produtividade de 44 toneladas por hectare, ou seja, estamos deixando de produzir 44 toneladas por hectare por causa desses fatores. Então nós identificamos esses fatores e vamos colocar a solução em prática para fazer o nosso cooperado produzir cada vez mais”, comprometeu-se o agrônomo.

O coordenador de mandiocultura da Copasul ressaltou que o potencial produtivo da mandioca divulgado na dissertação foi estimado seguindo a mesma metodologia do Global Yield Gap Atlas, um projeto fruto de uma parceria de pesquisadores da Wageningen University & Research e da University of Nebraska-Lincoln que formou o maior banco de dados agronômicos de alta qualidade do mundo para as principais lavouras em 70 países dos seis continentes. Agora, a pesquisa avançará e tomará o formato de tese de doutorado pela Unioeste (PR), incorporando também áreas da porção norte do Paraná.

Diante do desafio e da recompensa prometida, o departamento técnico da cooperativa está empenhado em levar o conhecimento até o produtor, como ocorreu no dia 15/04 na Fazenda Rosimara. “Nós vamos divulgar essas informações para os produtores adequarem o seu manejo para produzir cada vez mais de forma sustentável e rentável”, assegurou Zebalho.

DIA DE CAMPO DA MANDIOCA

Como forma de continuar prestando serviço ao cooperado e trazer os demais profissionais e estudantes do setor para mais perto do conhecimento gerado pelas pesquisas, a Copasul confirmou a data do Dia de Campo da Mandioca 2023, que está confirmado para 12 de julho em Naviraí-MS. De modo geral, Zebalho adiantou que a 4ª edição do encontro propiciará uma oportunidade a mais de os produtores rurais preencherem as lacunas que faltam para que as lavouras encontrem o seu potencial produtivo.

“Este evento terá como foco esses fatores limitantes - manejo e também genética. A Embrapa estará presente fazendo a promoção de duas novas cultivares de mandioca de indústria para dois ciclos, a BRS Ocauçú e a BRS Boitatá, entre outros assuntos de manejo que serão abordados neste dia”, antecipou.

A programação e o site para inscrição no evento serão divulgados em breve pela Copasul.  “Contamos com a presença de vocês. Vai ser um dia de muita troca de conhecimento, muito networking e aprendizado para todos”, convidou Zebalho.