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Evandro Binotto Fagan

Conhecimento é o principal insumo da agricultura moderna, aponta pesquisador

03, Nov de 2022
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Convidado da Agrocete para ministrar treinamento para agrônomos da Copasul, professor Evandro Fagan, da Unipam, falou sobre as mais recentes contribuições da pesquisa para as lavouras brasileiras

Convidado pela Agrocete para ministrar um treinamento sobre fisiologia de plantas para assistentes técnicos do departamento agronômico da Copasul, o doutor em agronomia Evandro Binotto Fagan, pesquisador e professor da Unipam, de Patos de Minas-MG, falou para o site da cooperativa sobre as mais recentes contribuições da pesquisa para os agricultores brasileiros. 

Em primeiro lugar, Fagan falou sobre a relevância da capacitação para o setor. “O conhecimento é o principal insumo da agricultura moderna. Quanto mais se conhecer como uma planta funciona, o que ela precisa para ter o seu melhor crescimento e desenvolvimento, mais produtividade você vai ter. As pessoas que dão essa consultoria, que têm acesso ao produtor, podem fazer com que o produtor seja mais eficiente, utilize melhor os recursos, os insumos. Eu acho que isso faz toda a diferença. Muitas vezes nós temos os produtos muito bons nas mãos, mas não sabemos quando aplicar e por que aplicar. Então é posicionar os produtos, o que eles têm a ver com conhecimento técnico, entender o que a planta precisa no momento que ela precisa”, opinou.

Fagan destacou a importância de treinamentos não somente para o produtor, mas também para balizar o direcionamento dos pesquisadores. “Eu acho que isso é importante tanto para a Agrocete como para a Copasul e até para mim, como pesquisador e professor. Porque eu vou estar mais próximo da ponta, entender quais são as dores do produtor. Hoje a gente sabe que quem está mais próximo do produtor são as empresas. Tem o exemplo da Agrocete e outras empresas que trabalham com a Copasul. E são elas que vêm trazer a tecnologia que vem para auxiliar nesses problemas. E nós, que estamos na área acadêmica, precisamos estar próximos também”, reforçou. 

AGRICULTURA “RAIZ”

Em seguida, o pesquisador indicou que o produtor deve investir no desenvolvimento radicular para vencer alguns dos principais desafios da agricultura. “Quando a gente fala em deficiência hídrica, ela é de longe o pior problema de todas as culturas. Em relação à deficiência hídrica, a gente fala que nada substitui a água. Com o passar do tempo, a gente entende que sempre que você tiver condições para que a planta desenvolva um sistema radicular mais robusto, essa planta consegue tolerar (estiagem) por períodos maiores. Porque, na verdade, a raiz é a boca da planta e é o alicerce dela. Assim, a planta consegue captar essa água em profundidades maiores e isso vai ajudar a atenuar o problema”, comentou.

NOVAS TECNOLOGIAS

Mas como a pesquisa pode ajudar o produtor a superar a estiagem, pragas e doenças? “Materiais genéticos, cultivares mais adaptadas, que têm uma capacidade melhor de tolerar a seca”, mencionou o professor da Unipam.

Contudo, Fagan lembrou que há uma compensação na produtividade de cultivares mais resistentes aos problemas. “Toda vez que nós melhoramos a capacidade de tolerância à seca, doenças e até mesmo a questão da cigarrinha, a gente perde um pouco em produtividade. Então as plantas mais rústicas, mais robustas, normalmente são menos produtivas porque elas precisam gastar parte da energia da produção para se defender, sobrando menos para produzir”, ponderou.

Deste modo, o doutor em agronomia alertou para os produtores que buscam cultivares mais produtivas e deixam de lado outras características importantes. “Então, ao longo dos anos, infelizmente nós vamos ter cada vez mais problemas de plantas com perdas de produção, porque nós estamos melhorando basicamente produtividade e deixando a planta cada vez mais sensível ao ambiente”, advertiu. 

Fagan revelou quais são os produtos mais recentes que podem atender as demandas que vêm dos campos. “Hoje a gente já pensa em produtos que atuam como se fossem vacinas, ou produtos que estimulam a planta a produzir sistemas de defesa antecipadamente. Isso não torna a planta resistente, mas melhora a tolerância. A gente já faz isso com doenças, com seca e com a própria cigarrinha. Tem algumas soluções que estão sendo testadas, como o próprio ácido salicílico. Ele pode melhorar, você aplica ele na planta para a planta produzir seus anticorpos, que nas plantas nós chamamos de fitoalexinas, para que possa melhorar a capacidade dela resistir ou tolerar determinadas injúrias”, exemplificou. 

Resumidamente, o professor concluiu afirmando que as tecnologias não são úteis caso o conhecimento necessário para operá-las não chegue até o produtor por meio de extensão rural. “Mas a pesquisa é muito dinâmica. É difícil hoje a gente traçar qual vai ser o futuro, mas uma coisa é certa. A fisiologia, a nutrição, o entendimento da planta é o caminho. E o caminho é conhecimento. E é cada vez muito mais necessário. A gente fala o seguinte: nós  temos muito acesso à informação. Isso é bom. Mas o conhecimento não é só informação. É pegar a informação e aplicá-la”, 

OPORTUNIDADES

Além disso, Fagan lamentou que a pandemia tenha atrasado o desenvolvimento das pesquisas. Ao mesmo tempo, abre oportunidades para profissionais atuarem no setor. “Em meu entender, pela própria pandemia, nós vamos ter pelo menos de 10 a 20 anos de um déficit de conhecimento no mercado e falta de profissionais. E eventos como esses vão ser cada vez mais necessários para a gente treinar grupos e tentar sanar um pouco dessa deficiência que veio nesses anos de pandemia”, aprovou.